O Evento

 

 

Quais são as condições  do advento da subjetividade  na criança hoje?

 

 
O mal-estar na criança e no adolescente, hoje
 
Desde Freud sabemos que a civilização se inscreve pela renúncia ao gozo e pelo mal-estar suscitado por esse movimento, que faz sua marca singular em cada um, determinando assim uma posição em relação à linguagem e ao sexo. É o Pai, enquanto função de corte, de lei, que instaura a renúncia ao gozo e que está na origem da constituição do sujeito.
 
Em 1972, na Universidade de Milão, Lacan apresenta o discurso do capitalista, ao mesmo tempo em que anuncia uma frase enigmática “talvez um dia exista um discurso chamado, assim, o mal da Juventude”. Apesar do sujeito ser a-temporal, Lacan chama a atenção para os efeitos do discurso do capitalista sobre esse sujeito, em sua relação com o saber e o gozo, determinando novas formas de laço social. Nesse discurso, gerado como uma exceção aos quatro discursos radicais, Lacan sugere um certo tipo de rejeição da castração, em todos os campos do simbólico, denunciando algo que aponta para uma insuficiência da função paterna, com efeitos importantes sobre a subjetividade e a relação do sujeito com a Lei. Esses efeitos nos interrogam sobre as possibilidades e impasses que se delineiam nas funções de filiação e de paternidade, para cada um, nos contextos familiares da atualidade.
 
A prática psicanalítica com crianças e adolescentes tem se confrontado com sintomas marcados por uma dimensão do agir e também pela busca insaciável de gozo, através de objetos de consumo cada vez mais descartáveis, que prometem felicidade e satisfação absoluta. Essas manifestações denunciam dificuldades no reconhecimento da falta e na aceitação de limites. Aturdidos com as mudanças na constituição familiar, mergulhados na velocidade incessante das informações ofertadas a partir da revolução tecnológica, as crianças e os adolescentes, super informados e formatados, queixam-se de solidão, frustração, insegurança e abandono. Freqüentemente apresentam dificuldades de interagir, de reconhecer e respeitar diferenças, de conviver com a realidade em que vivem e onde devem se posicionar.
 
Na atualidade nos cabe também pensar sobre esses efeitos na construção da subjetividade dos bebês. Embora o sintoma se apresente no corpo do bebê, a sua representação está sustentada pela mãe e pelo pai, enquanto funções estruturantes, que encarnam o campo do Outro. Esse corpo prematuro constitui-se o suporte para diversas manifestações psíquicas e, freqüentemente, vemos bebês perturbados, que precisam de cuidados no primeiro ano de vida. Na contemporaneidade as respostas a essas questões têm sido centradas no determinismo biológico, e em técnicas e saberes que corroboram para o apagamento da subjetividade do pequeno humano. Devemos resgatar esse debate nas recentes contribuições da psicanálise sobre o tema.
 
Frente a esses argumentos, convidamos os psicanalistas e interessados pela psicanálise a pensarem se os novos modos de operação dos significantes nomes do Pai não estariam, atualmente, dificultando a criança a aceder ao lugar de sujeito do inconsciente, favorecendo com isto a sua permanência na posição de objeto.
 
Propomos que as intervenções e debates do II CONGRESSO INTERNACIONAL DE PSICANÁLISE – A CRIANÇA E O ADOLESCENTE NO SÉCULO XXI considerem e trabalhem o encaminhamento desta reflexão a partir de EIXOS assim nomeados:
 
 E, de pronto nos perguntamos: Será que essas questões não apontariam para as tentativas de “fazer um pai” e para a invenção de novas formas de suplência? Levando-nos em conseqüência a indagar: qual seria o mal-estar na criança e no adolescente hoje?